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domingo, 23 de março de 2014

2012-2014: O que aprendemos nesse tempo?

           Há exatos 2 anos, tivemos a oportunidade de observar e fotografar a aurora boreal.        
            Havíamos planejado cuidadosamente a viagem  para que as condições fossem as melhores  possíveis, mas acabou não acontecendo bem assim.
         Estávamos tão entusiasmados com a perspectiva de uma intensa atividade solar que optamos por fazer uma viagem não dedicada só à aurora boreal, abrindo mão assim de estabelecer uma base fixa com flexibilidade de movimentação em torno da mesma.
          Analisando a experiência vivenciada e o comportamento do ciclo de atividade solar, aprendemos algumas lições.
            1ª Lição: Como o nível de incerteza é elevadíssimo nas  previsões da atividade solar, exceto as de curtíssimo prazo e essas só interessam a quem estiver na região de ocorrência da aurora ou muito próximo, ESQUEÇA ISSO, ou considere sem maiores expectativas, no planejamento de sua viagem a milhares de quilômetros de distância e com meses de antecedência. O atual ciclo solar está sendo muito fraco e teve, segundo alguns cientistas, ao invés de um pico pronunciado como é esperado, dois pequenos picos, e a nossa viagem acabou ocorrendo entre eles.
            2ª Lição: Passar uma semana ou mais na Região Ártica não garante por si só que se terá várias ou muitas noites de céu aberto, portanto PRIORIZE, ACIMA DE TUDO, OPÇÕES QUE POSSIBILITEM TENTAR ESCAPAR DE CONDIÇÕES ATMOSFÉRICAS ADVERSAS. EVITE ESTAR PRESO A UM ROTEIRO DE CRUZEIRO OU DE EXCURSÃO TURÍSTICA CONVENCIONAL. Passamos seis noites no Ártico e tivemos apenas uma com céu claro, que não podemos explorar apropriadamente porque navegávamos em mar aberto.
            3ª Lição: Um excesso de otimismo, causado pela farta propaganda sobre o assunto, pode levar a se pensar assim: primeiro vamos observar e fazer umas fotos de teste, depois as fotos "oficiais" e até um time-lapse vídeo. É... pode ser que sim, se tiver muuiiita sorte, muuuuiiiiiita sorte mesmo. É bem mais provável que não se tenha todas essas oportunidades e se acabe ficando desanimado. EVITE O EXCESSO DE OTIMISMO, NÃO DESANIME NUNCA E, SOBRETUDO, ESTEJA SEMPRE PREPARADO E COM O EQUIPAMENTO PRONTO, porque aquela oportunidade pode ser a única, como aconteceu na nossa viagem.
          4ª Lição: Auroras excepcionalmente belas são muito raras, de modo que uma boa composição com elementos do local é fundamental para que as fotos fiquem interessantes. Durante o atual ciclo solar, mesmo sendo um dos mais fracos já registrados, aconteceram algumas auroras espetaculares, antes e depois da nossa viagem, inclusive uma cerca de 15 dias antes, mas isso é totalmente imprevisível com mais do que algumas horas e sempre pode ocorrer ou não. NÃO ALIMENTE MUITAS EXPECTATIVAS DE FOTOGRAFAR AURORAS EXCEPCIONAIS E PRIORIZE O USO DE UMA GRANDE ANGULAR (distância focal equivalente ≤27mm) OU EVENTUALMENTE ATÉ MESMO UMA FISHEYE (particularmente, não gostamos muito da forte distorção da imagem inerente a essas lentes, mas possuem um grande ângulo de visão). Como estávamos em um navio em movimento, usamos uma lente muito rápida (f/1.4), o que foi ótimo, mas com uma distância focal de 30mm (na nossa DX o equivalente a 45mm, ou seja, quase uma lente normal), impossibilitando fazer-se qualquer composição com o ambiente. As lentes normais, mesmo as muito rápidas, só serão úteis em situações muito específicas que, com excessão de fotografar detalhes da aurora, devem normalmente ser evitadas. Assim, COMO REGRA, PONHA AS LENTES NORMAIS DE LADO, pelo menos em um primeiro momento.
         5ª Lição: As incontáveis fotos e os inúmeros vídeos mostrados em livros, em jornais, na TV, na Internet, etc... frequentemente apresentam a aurora boreal como um espetáculo feérico, intensamente colorido, agitado. NÃO ESPERE VER A AURORA DESSA FORMA, PORQUE VOCÊ PODE FICAR DECEPCIONADO E, O QUE É PIOR, DESISTIR DE CONTINUAR A APRECIÁ-LO, PORQUE É MUITO FRIO MESMO. A aurora boreal vista ao vivo é algo suave, sutil, envolvente, com sensações devidas ao clima, ao ambiente, ao momento e até ao seu estado de espírito. Não há como registrar isso em fotos ou em vídeo. LEMBRE QUE UMA FOTO, UM VÍDEO E INCLUSIVE A SUA VISÃO SÃO REPRESENTAÇÕES DA REALIDADE... NÃO SÃO A PRÓPRIA REALIDADE. O RESULTADO DOS REGISTROS FOTOGRÁFICOS VAI DEPENDER DOS AJUSTES DA CÂMERA E DO PROCESSAMENTO POSTERIOR FEITOS CONFORME A SENSIBILIDADE E AS PREFERÊNCIAS ARTÍSTICAS DE CADA UM.

    Ciclo solar 24 é o mais fraco em 100 anos

              Segundo as primeiras previsões da NASA, feitas há alguns anos, este ciclo solar seria, senão o de maior atividade, um dos de maior atividade nos últimos 100 anos ou até mesmo de todos os registrados pelo Homem desde há cerca de 400 anos. Havia, é claro, os cientistas que discordavam, prevendo que seria um ciclo de baixa atividade, mas constituíam na época uma minoria.
              O tempo foi passando, as previsões foram sendo revistas e há dois anos, quando viajamos para a Noruega para observar e fotografar a aurora boreal, ainda se esperava um máximo solar intenso, mas já bem menos expressivo.
               2014 - O Ciclo 24 vai se encaminhando para o fim como o mais fraco dos últimos 100 ou até talvez 200 anos, ao contrário da maioria das previsões iniciais, inclusive as da NASA, de 8 ou 9 anos atrás e já há prognósticos de que o próximo ciclo, a ter início em algum momento de 2019, possa ser ainda mais fraco, o mesmo podendo acontecer com o ciclo seguinte. Tal quietude da superfície solar tem suscitado especulações no meio científico sobre o que está acontecendo no Sol  e suas consequências sobre o clima da Terra.